"Nunca é tarde demais para ser o que você poderia ter sido."

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Friedrich Nietzsche

Friedrich Wilhelm Nietzsche (15/10/1844 - 25/08/1900)

Em 1871, publicou O Nascimento da Tragédia, a respeito da qual se costuma dizer que o verdadeiro Nietzsche fala através das figuras de Schopenhauer e de Wagner. Nessa obra, considera Sócrates (470 ou 469 a.C.-399 a.C.) um "sedutor", por ter feito triunfar junto à juventude ateniense o mundo abstrato do pensamento. A tragédia grega, diz Nietzsche, depois de ter atingido sua perfeição pela reconciliação da "embriaguez e da forma", de Dioniso e Apolo, começou a declinar quando, aos poucos, foi invadida pelo racionalismo, sob a influência "decadente" de Sócrates. Assim, Nietzsche estabeleceu uma distinção entre o apolíneo e o dionisíaco: Apolo é o deus da clareza, da harmonia e da ordem; Dioniso, o deus da exuberância, da desordem e da música. Segundo Nietzsche, o apolíneo e o dionisíaco, complementares entre si, foram separados pela civilização. Nietzsche trata da Grécia antes da separação entre o trabalho manual e o intelectual, entre o cidadão e o político, entre o poeta e o filósofo, entre Eros e Logos. Para ele a Grécia socrática, a do Logos e da lógica, a da cidade-Estado, assinalou o fim da Grécia antiga e de sua força criadora. Nietzsche pergunta como, num povo amante da beleza, Sócrates pôde atrair os jovens com a dialética, isto é, uma nova forma de disputa (ágon), coisa tão querida pelos gregos. Nietzsche responde que isso aconteceu porque a existência grega já tinha perdido sua "bela imediatez", e tornou-se necessário que a vida ameaçada de dissolução lançasse mão de uma "razão tirânica", a fim de dominar os instintos contraditórios.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

MODOS DE VER

Modos de ver 
John Berger 
Ensaio   168 páginas 
Tradução: Lúcia Olinto 


SIM, É O NOME DE UM LIVRO! http://www.editoras.com/rocco/022203.htm


Sinopse
Modos de ver revela como nossos modos de ver interferem na nossa maneira de interpretar. Especificamente analisa quatro aspectos da interpretação da pintura a óleo: sua origem relacionada com o sentido da propriedade, a posição continuada da mulher como objecto pictórico, a relação entre a herança visual da pintura e da publicidade e, por último, a transformação do significado da obra original dentro do contexto da multiplicidade de reproduções. Dos sete ensaios que compõem este livro, quatro deles combinam textos e imagens, enquanto que os três restantes são estritamente visuais. Nestes últimos, o autor seleccionou uma série de reproduções de quadros e fotografias publicitárias com a finalidade de mostrar determinadas analogias entre imagens de diferentes épocas e procedências. Modos de ver foi o resultado de uma série de televisão do mesmo nome que John Berger e outros colaboradores realizaram a princípios dos anos 1970 para a BBC. Modos de ver, com o passar dos anos, tornou-se um título indispensável da teoria da arte e da comunicação visual.
Apesar de ser estruturado a partir de ponderações sobre a História da Arte, o livro transcende a sua função de pensar a questão estética e acaba fazendo o leitor refletir sobre a sua visão de mundo.
Olhar é um ato de escolha. 
A percepção de qualquer imagem é afetada pelo que sabemos ou pelo que acreditamos. 
Assim, é possível entender que toda imagem incorpora uma forma de ver.

Os nus europeus, por exemplo, pintados como se a mulher estivesse a serviço do desejo do espectador (geralmente masculino), pressupõem um relacionamento desigual presente até hoje na nossa cultura, de que homens e mulheres têm presenças sociais diferentes e agem como tal.


E agora o meu MODO DE VER todo esse papo da semana:
(faço aqui um link entre duas disciplinas: antropologia e modos de ver)
Ao filmar/encenar uma outra cultura, uma outra sociedade, o realizador do filme/peça etnográfico(a), tal como o antropólogo, invade um espaço que não é o seu. 
Essa situação coloca-lhe riscos, na medida, em que é através do seu “olhar” que a audiência vai compreender essa mesma cultura. 
A objectividade científica em Antropologia, tem sido de certa forma, contestada exactamente por essas questões inerentes à alteridade. 
Em primeiro lugar, o antropólogo/realizador é sempre um estranho, que traz consigo padrões culturais bem definidos, por outro lado, destabiliza e cria reacções novas, a partir do momento em que faz impor a sua presença.
Os problemas do etnocentrismo são outro aspecto a analisar, isto porque é difícil analisar o “outro” que é diferente de mim, das minhas maneiras de ser e crer e construir um modelo representativo daquele contexto cultural e transmiti-lo como único e verdadeiro, quando essa verdade depende da minha forma de “olhar”.
Ao documentar uma cena em profundidade, o realizador tem a responsabilidade de seleccionar as imagens que lhe parecem mais significativas e que revelam melhor o sentido da cultura abordada.
A partir do momento em que o realizador está entre a sua própria cultura e outra, assumindo o papel de mediador, a função deste é elaborar uma sequencialidade de imagens/cenas que estendam a sua compreensão para uma audiência que tem apenas o filme/peça como fonte. É a partir do seu entendimento que influenciará também o nosso “modo de ver”.
Na minha humilde perspectiva, esta é uma questão que, apesar de pertinente acaba por não ter uma resposta definida, pois, a objectividade pura em Antropologia, ou no modo como vemos os outros, é sempre algo questionável. 
Depende sempre do modo como cada um de nós visualiza os “outros” e o seu mundo.
O modo como eu analiso uma sociedade, enquanto arte educadora, não será de certo o mesmo que outro colega de profissão, porque não existem fórmulas certas.

BEIJOKAS E ATÉ LOGUINHO!!!!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Filosofia do Teatro e a Poética de Aristóteles



Aristóteles propõe a independência da poesia (lírica, épica e dramática) em relação à política;  observamos que, não obstante suas afirmações, Aristóteles constrói o primeiro sistema poderosíssimo poético-político de intimidação do espectador, de eliminação das “más” tendências ou tendências “ilegais” do público espectador. Este sistema é amplamente utilizado até o dia de hoje, não somente no teatro convencional como também nos dramalhões em série da TV e nos filmes de far west: cinema , teatro e TV, aristotelicamente unidos para reprimir o povo.
Felizmente, o teatro aristotélico não é a única maneira de se fazer teatro.

COMO FUNCIONA O SISTEMA TRÁGICO COERCITIVO DE ARISTÓTELES

PRIMEIRA ETAPA – Estímulo da harmatia; o personagem segue o caminho ascendente para a felicidade, acompanhado empaticamente pelo espectador.

Surge um ponto de reversão: o personagem e o espectador iniciam o caminho inverso da felicidade à própria desgraça. Queda do herói.

SEGUNDA ETAPA – O personagem reconhece seu erro: ANAGNORISIS. Através da relação empática dianóia-razão, o espectador reconhece seu próprio erro, sua própria harmatia , sua própria falha anticonstitucional.

TERCEIRA ETAPA – CATÁSTROFE: O personagem sofre as conseqüências do seu erro, de forma violenta, com sua própria morte ou a morte de seres que lhe são queridos.

CATARSE – o espectador, aterrorizado pelo espetáculo da catástrofe, se purifica de sua harmatia.

Atribui-se a Aristóteles a seguinte frase: Amicus Plato, Sed Magis Amicus Verita (“Sou amigo de Platão, mas mais amigo da verdade”). Nisto estamos totalmente de acordo com Aristóteles: somos amigos, mas muito mais amigos da verdade. Ele nos diz que a poesia, a tragédia, o teatro, não tem nada a ver com a Política. Mas a realidade nos diz outra coisa.

Sua própria Poética nos diz outra coisa. Temos que ser muito mais amigos da verdade: todas as atividades do homem, incluindo-se evidentemente todas as artes, especialmente o teatro, são políticas. E o teatro é a forma artística mais perfeita de coerção. Que o diga Aristóteles.

O sistema trágico coercitivo de Aristóteles sobrevive até hoje graças à sua imensa eficácia. É efetivamente um poderoso sistema intimidatório. A estrutura do sistema pode variar de mil formas, fazendo com que seja às vezes difícil de descobrir todos os elementos de sua estrutura, mas o sistema estará aí, realizando sua tarefa básica: a purgação de todos os elementos anti-sociais.

Justamente por essa razão, o Sistema não pode ser utilizado por grupos revolucionários durante os períodos revolucionários. Quer dizer: enquanto o ethos social não está claramente definido, não se pode usar o esquema trágico pela simples razão de que o ethos do personagem não encontrará um ethos social claro ao qual enfrenta-se.

(Texto livremente resumido do “Teatro do oprimido” de Augusto Boal)

O Clown nosso de cada dia!


Miguxa e Mussarela - amigas pra toda vida!!

Observa a ti mesmo... tuas ações, tuas reações, tua maneira de ser, de caminhar, de ver o mundo, de expressar-se. E exagera a ti mesmo.
A busca do clown é a busca do próprio ridículo.
Expressar-se sendo tu mesmo, sendo natural, é fantástico. Porém, tens que manter a naturalidade desde um estado de energia alta. Se o fazes com uma energia comum, poderias estar comprando no mercado... Qual é a graça? Não serás diferente, porém maior que a imagem que tens de ti mesmo. Ser clown é surpreender a atenção das pessoas... e roubar-lhes o coração.
Converte tuas debilidades pessoais em FORÇA TEATRAL.
Ser clown é a máxima liberdade, a liberdade de arriscar-se...
Não te defendas.
Se um clown baixa as calças de outro, este não o impedirá, observará como lhe baixam as calças com ingenuidade, até que se dê conta de que está em evidência diante do público. Logo pode vingar-se, porém não se defende, deixa que as coisas aconteçam.
Encontra prazer em tudo o que fazes.
Se tu não desfrutas, ninguém o fará. Não podes comunicar prazer a menos que o sintas. O clown joga alto pois nada tem a perder, e portanto é... LIVRE!!! É este o prazer com o qual o público se conecta. Se estás incômodo, distraído ou aborrecido em cena, o público nota e se afasta de ti.
Observa o público.
O público é o espetáculo que diverte e emociona o palhaço. O palhaço não age, reage às ações e às emoções do público. A inspiração, o roteiro, o texto, o momento de encerrar, tudo vem do público.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Eparrê Oiá!


E antes que alguém me chame de macumbeira (como de costume) defendo aqui a cultura da Umbanda, como objeto de pesquisa sobre Antropologia voltada para o Teatro e Expressão Corporal utilizada em rituais. 
Na aula de ontem, conhecemos a professora de Antropologia voltada para o Teatro, Karine Jansen, e eu mal comecei a aula e saí (Comecei bem, heim tia Karine!) mas foi por um bom motivo: fazer pesquisa de campo para servir de base nas próximas disciplinas. Meu objetivo é trabalhar com rituais, mais exatamente... poisé, a tão polêmica Umbanda, uma cultura religiosa riquíssima em aspectos teatrais.
E lá fui eu desde oito da noite para a casa de Umbanda da Mãe Jarina, casa de desmanches e rituais das encantarias que prometem desfazer tudo o que a Quimbanda traz de mal às pessoas. 
Uma breve explicação pra você que nem faz ideia do que estou falando: 

A Umbanda tem como lugar de culto o templo, terreiro ou Centro, que é o local onde os Umbandistas se encontram para realização do culto aos orixás e dos seus guias, que na Umbanda se denominam giras.
A Quimbanda é onde atuam os exus e pombas-giras (também chamados de "Povo de Rua"); estes fazem uso de forças negativas (isso não significa malignas), muitas vezes estão presentes em lugares onde possa ter Kiumbas (obsessores-seres malignos, também conhecidos como Egum).

Uma casa grande e bonita, com uma área nos fundos destinada para os trabalhos. Entrei e já haviam algumas pessoas esperando pelo atendimento. Começaram a chegar médiuns, Devidamente vestidos e adornados de guias aguardando a dona do terreiro, Mãe Linda. A casa ia enchendo de gente de todas as idades e de todas as classes sociais, a grande maioria procura a mãe de santo para resolver problemas de saúde, mas há quem queira abrir caminhos ou ainda resolver seus casos amorosos. A mãe de santo chega e inicia o trabalho com uma corrente de orações. Eles pedem por Força e Luz para que possam trabalhar. Daí começam os pontos cantados e não demora muito para a Mãe Jarina "arreiar". Ela saúda seus filhos, dá a bença a cada médium e começa a atender as pessoas que já formam uma fila saído pela porta. 
Chega minha vez e eis que me deparo com a Mãe Jarina. Ela me cumprimenta com muita alegria, diz que já me esperava há algum tempo e que era um enorme prazer me receber em sua casa. Gente, que forte! Eu nem estava acreditando que a Mãe Jarina me admirava tanto. O fato curioso na conversa foi ela dizer que possuo três proteções e uma das, é justamente a Orixá que escolhi e trabalhei no Auto do Círio: INHANSÃ.

- Inhansã é um Orixá forte, com personalidade guerreira, determinada e impulsiva. Ela sempre luta por uma causa nobre e por justiça. Inhansã, Senhora do tempo, é rápida como eles e não fogem as demandas, sendo sempre muito destemida.

Na época do auto em 2009, muitos me falaram que eu era a própria orixá incorporada, mas ouvir isso de uma Mãe de Santo, confesso que foi de arrepiar.
Crenças à parte, melhor não duvidar. Sempre respeitei a religião de cada um, e parei para rever alguns fatos: sendo que sou católica, nascida em 12/12, dia de Nª Sª de Guadalupe, 8 dias depois do dia de Santa Bárbara, cujo sincretismo recai em Iansã (e 8 é o nº da Iansã). Além do fato de ter um nome bem sugestor, Maíra Tupinambá. Como eu disse, melhor não duvidar.

O material para pesquisa é vasto, penso em retornar com uma câmera e registrar as partituras corporais de cada médium no ato de receber as entidades. É visível a transformação no corpo, no rosto e até na fala. Para mim, era um grande palco e as entidades eram personagens encarnados para objetivar o andamento das dramaturgias da vida real, conforme a necessidade, arreiava um caboclo. Eu vi Jarina, Jurema, Yara, Xica Baiana, Oxóssi, Maria Cigana, Mariana, Rosa Boiadeira, Caboclo Sete Flechas, José Tupinambá, Cabocla Girassol e até onde lembro, pois eram muitos que chegavam, estes eu identifiquei pelos pontos cantados e por já ter lido sobre. Cada vez que chegava um caboclo, eles cantavam seu ponto de apresentação e eram aplaudidos e recebidos com bebida, fumo e perfume. 
Impossível não compará-los aos artistas, a grande diferença, é que era real, era a encarnação das entidades.

Cheguei em casa e me assustei, já eram 2h da manhã, e nem senti passar o tempo. 
Foi com certeza, um espetáculo!

Até a próxima postagem.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Territórios de Teatro


Foi simplesmente fantástico o territórios na sua 3ª edição!
Peças diversificadas e público em peeeeeeeeso. Ainda é pouco para uma população tão carente por artes, mas fica o incentivo, a troca e o exemplo do Festival. 
Na abertura do festival teve o Pássaro Junino Tucano, no Teatro Universitário Cláudio Barradas, seguindo direto para Morgue Insano and Cool (Nando Lima), no Casarão do Boneco. na sequência, vimos de tudo um pouco: 

Uma Flor para Linda Flora (Grupo Teatro do Ofício); O Mão de Vaca (Palhaços Trovadores); Abraço (Cuíra);Sirênios (In Bust Teatro com Bonecos); Contos da Floresta (Companhia Bric Brac);Iracema Voa (Ester Sá);Jogo de Sete (Cia de Teatro Em Cores);  Perifeéricos – A Começar pelo Pôr-do-Sol (Perifeéricos);Útero – Fragmentos Românticos da Vida Feminina (Saulo Sisnando);Retalhos de Holanda (Truppe Imaginarte);A Mulher Macaco (Grupo de Teatro da Unipop);Sem Flor, Sem Perfume, Sem Margarida (Companhia Nós do Teatro);Corpo Santo (Companhia de Teatro Madalenas);A Troca e a Tarefa (Yeyé Porto); Águas de Mariana (Gemte);  Meio-Dia do Fim (Pessoal do Faroeste); Quem Tem Riso Vai à Lona (Notáveis Clowns);Frozen (Usina Contemporânea); Os Dons de Quixote (Grupo da Escola de Teatro e Dança da UFPA); In Between (Yael Karavan).  

Ufaaaa! Foram muitas e muitas peças, cultura pra dar e vender, aliás a entrada era apenas 1kg de alimento não perecível a serem repassados para comunidades carentes.
É o tipo de iniciativa e mobilização que a cidade precisa.
Deixo meus parabéns a todos os produtores, divulgadores, artistas e platéia que de alguma forma prestigiaram o evento, fica o gostinho de "quero-mais" e o aguardo ansioso para o próximo Festival!

É isso aew galera, MERDA!