"Nunca é tarde demais para ser o que você poderia ter sido."

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Eparrê Oiá!


E antes que alguém me chame de macumbeira (como de costume) defendo aqui a cultura da Umbanda, como objeto de pesquisa sobre Antropologia voltada para o Teatro e Expressão Corporal utilizada em rituais. 
Na aula de ontem, conhecemos a professora de Antropologia voltada para o Teatro, Karine Jansen, e eu mal comecei a aula e saí (Comecei bem, heim tia Karine!) mas foi por um bom motivo: fazer pesquisa de campo para servir de base nas próximas disciplinas. Meu objetivo é trabalhar com rituais, mais exatamente... poisé, a tão polêmica Umbanda, uma cultura religiosa riquíssima em aspectos teatrais.
E lá fui eu desde oito da noite para a casa de Umbanda da Mãe Jarina, casa de desmanches e rituais das encantarias que prometem desfazer tudo o que a Quimbanda traz de mal às pessoas. 
Uma breve explicação pra você que nem faz ideia do que estou falando: 

A Umbanda tem como lugar de culto o templo, terreiro ou Centro, que é o local onde os Umbandistas se encontram para realização do culto aos orixás e dos seus guias, que na Umbanda se denominam giras.
A Quimbanda é onde atuam os exus e pombas-giras (também chamados de "Povo de Rua"); estes fazem uso de forças negativas (isso não significa malignas), muitas vezes estão presentes em lugares onde possa ter Kiumbas (obsessores-seres malignos, também conhecidos como Egum).

Uma casa grande e bonita, com uma área nos fundos destinada para os trabalhos. Entrei e já haviam algumas pessoas esperando pelo atendimento. Começaram a chegar médiuns, Devidamente vestidos e adornados de guias aguardando a dona do terreiro, Mãe Linda. A casa ia enchendo de gente de todas as idades e de todas as classes sociais, a grande maioria procura a mãe de santo para resolver problemas de saúde, mas há quem queira abrir caminhos ou ainda resolver seus casos amorosos. A mãe de santo chega e inicia o trabalho com uma corrente de orações. Eles pedem por Força e Luz para que possam trabalhar. Daí começam os pontos cantados e não demora muito para a Mãe Jarina "arreiar". Ela saúda seus filhos, dá a bença a cada médium e começa a atender as pessoas que já formam uma fila saído pela porta. 
Chega minha vez e eis que me deparo com a Mãe Jarina. Ela me cumprimenta com muita alegria, diz que já me esperava há algum tempo e que era um enorme prazer me receber em sua casa. Gente, que forte! Eu nem estava acreditando que a Mãe Jarina me admirava tanto. O fato curioso na conversa foi ela dizer que possuo três proteções e uma das, é justamente a Orixá que escolhi e trabalhei no Auto do Círio: INHANSÃ.

- Inhansã é um Orixá forte, com personalidade guerreira, determinada e impulsiva. Ela sempre luta por uma causa nobre e por justiça. Inhansã, Senhora do tempo, é rápida como eles e não fogem as demandas, sendo sempre muito destemida.

Na época do auto em 2009, muitos me falaram que eu era a própria orixá incorporada, mas ouvir isso de uma Mãe de Santo, confesso que foi de arrepiar.
Crenças à parte, melhor não duvidar. Sempre respeitei a religião de cada um, e parei para rever alguns fatos: sendo que sou católica, nascida em 12/12, dia de Nª Sª de Guadalupe, 8 dias depois do dia de Santa Bárbara, cujo sincretismo recai em Iansã (e 8 é o nº da Iansã). Além do fato de ter um nome bem sugestor, Maíra Tupinambá. Como eu disse, melhor não duvidar.

O material para pesquisa é vasto, penso em retornar com uma câmera e registrar as partituras corporais de cada médium no ato de receber as entidades. É visível a transformação no corpo, no rosto e até na fala. Para mim, era um grande palco e as entidades eram personagens encarnados para objetivar o andamento das dramaturgias da vida real, conforme a necessidade, arreiava um caboclo. Eu vi Jarina, Jurema, Yara, Xica Baiana, Oxóssi, Maria Cigana, Mariana, Rosa Boiadeira, Caboclo Sete Flechas, José Tupinambá, Cabocla Girassol e até onde lembro, pois eram muitos que chegavam, estes eu identifiquei pelos pontos cantados e por já ter lido sobre. Cada vez que chegava um caboclo, eles cantavam seu ponto de apresentação e eram aplaudidos e recebidos com bebida, fumo e perfume. 
Impossível não compará-los aos artistas, a grande diferença, é que era real, era a encarnação das entidades.

Cheguei em casa e me assustei, já eram 2h da manhã, e nem senti passar o tempo. 
Foi com certeza, um espetáculo!

Até a próxima postagem.

Um comentário:

  1. olá eu sou Maira tbm!!!! e sou umbandista , acho lindo as encorporações e viajo no pensamento, quando ouço os atabaques soarem e os pontos cantados, lindo lindo, sou filha de OBÁ, e tambem trabalho no terreiro do CABOCLO SOL E LUA, na cidade de bauru. muito axé pra vc, bjussss achei muito interessante sua postagem.Até mais....

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