"Nunca é tarde demais para ser o que você poderia ter sido."

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A construção do meu rito


Decidi publicar meu trabalho de práticas corporais na íntegra, já que tirei um EXCELENTE numa disciplina polêmica e super difícil. Foi uma grande superação ter concluído esta matéria com uma nota máxima, Me sinto orgulhosa e com mais certeza de que estou no caminho certo. Compartilho agora este trabalho cujo esforço e superação foram o ápice da minha capacidade semestre passado.

Por Maira Tupinambá
Ophelia
Ophelia era uma noiva de Deus
Carmelita novata,
Nas celas da irmã, os sinos da clausura,
Soados na noite de seu casamento
Ophelia era a menina rebelde,
Uma sufragista de meia calça azul
Que curou a sociedade entre seus cigarros
E Ophelia era a queridinha de uma nação noturna
Coxas curvilíneas, olhos vivazes,
Era amor à primeira vista,
Ophelia era uma semi-deusa
Na Babilônia antes da guerra
Tão como estátua, uma silhueta
Em vestidos de noite de cetim preto
Ophelia era a amante para um jogador de Vegas
Signora Ophelia Maraschina
Cortesã de máfia
Ophelia era a rainha de circo, a bala de canhão feminina,
Projetada através de cinco arcos flamejantes
Para o aplauso selvagem e chocado
Ophelia era uma tempestade, ciclone, um maldito furacão,
Seu bom senso, sua melhor defesa desperdiçada e em vão
Por Ophelia saber toda sua aflição e toda dor que você tivesse
Ela se simpatizaria e secaria seus olhos
E o ajudaria a esquecer
A mente de Ophelia imaginava
Que você desejaria saber onde ela tinha ido
Para portas secretas pelos corredores
Ela os vagaria sozinha
Todos sozinha

OPHELIA , é um hino estranhamente ambivalente para qualquer mulher, a Anima*, vulnerável e inviolável, traidora e traída.
*a anima é o lado feminino de um homem, é uma das grandes obras da vida de um homem para tentar se relacionar com essa mulher.  
OBSERVAÇÃO:
Maira
Sua narrativa, em forma de versos ou como você denomina “hino estranhamente ambivalente”, é altamente reveladora e nos fazer pensar sobre questões extremamente intimas. Esse é o caminho do rito pessoal. É com essa força poética que você deve realizar o rito; em outras palavras: essa oração é a sua profissão de fé, executada intimamente, no momento da realização do rito. Abstraia as partituras e oriente-se, no momento da execução das mesmas, pelos elementos que constituem sua “metáfora potencialmente reveladora”, isto é, o hino a Ophelia.
Também peço que você desenvolva agora uma narrativa livre acerca dessa personagem, articulando-a com o Teatro ou com o oficio do Ator, isto é, no fazer teatral quem é Ophelia? O que significa, no Teatro, ser Ophelia?  
Prof. Edson.   

O que significa, no teatro, ser Ophelia.
Levando em conta que a Imagem Corporal é um processo contínuo, que vai do nascimento até a finitude, se moldando e sendo moldada através das relações, do meio, das circunstâncias (e que pode na verdade já começar a existir antes mesmo da concepção do indivíduo - pois já vem inscrita no desejo dos pais), o presente rito tem como objetivo demonstrar que a arte  – linguagem do “Fazer Teatral”  – pode contribuir para ressignificar continuamente essa imagem corporal, permeando pelo lúdico, pela sensibilidade, independente da razão; permitindo o jogo simbólico e possibilitando ao sujeito “exorcizar” seus fantasmas, suas angústias, através da criatividade e da imaginação. Criei um paralelo baseado na Ophelia de William Shakespeare e na música Ophelia de Natalie Merchant, um de meus elementos utilizados no rito.
Ofélia era a heroína apaixonada por Hamlet. Ofélia é uma personagem torcida entre o amor e a lealdade, possuidora de uma submissão e de um desejo contrastantes que a levariam à loucura.
 Ophelia é a narrativa de uma Atriz, suas paixões, suas limitações e tudo aquilo que se dispõe para fazer teatro. As angústias, expectativas e superações.
As partituras revelam a força dos sentimentos de “querer fazer”, sobrepondo-se às limitações de um corpo que se encontra diferente, cansado e repleto de dificuldades.
Os movimentos representam oscilações psico-físicas:
1-   A luta diária dividida entre o trabalho e o Teatro;
2-   A estafa;
3-   A auto-afirmação “se eu quero, eu posso e consigo”.
4-   A força para não desistir e se reerguer;
5-   As superações;
6-   O recomeçar a cada dia.



Quem é Ophelia no fazer teatral. (narrativa livre)
Inspirada na Ophelia de William Shakespeare.
Ofélia era a heroína apaixonada por Hamlet.
 Ofélia é uma personagem torcida entre o amor e a lealdade.
Possuidora de uma submissão e de um desejo contrastantes, que a levariam à loucura.
Proponho aqui uma Ofélia paralela.
Com angústias, expectativas e superações desde quando queria ser atriz.
Com paixões, limitações e quase louca com a correria diária.
E porque tudo isto? Por amor ao teatro.
São muitas as dúvidas sobre suas capacidades.
São inúmeras as lamentações por estar com um corpo repleto de limitações.
Um corpo diferente. Cansado pela vida e suas surpresas.
Um corpo que não aceita estar assim, e por isso luta contra suas imperfeições.
Um corpo que supera limites diariamente.
Um corpo que morre assim que nasce a atriz.
Esta Ophelia é vulnerável e inviolável.
Traidora quando se torna indisciplinada.
E traída quando o Teatro exige muito além.
Ophélia é aqui, uma heroína apaixonada pelo Teatro.
Ophélia é toda a Atriz que supera suas dificuldades por amor ao Teatro.


Aprendi com o meu rito pessoal.
Exercitando nossas inteligências física, mental e emocional, tornamos nossos corpos mais livres, nossas mentes mais alertas e nossos corações mais receptivos.
Por tudo isso, nos tornamos mais forte. Sinto- me mais forte.


 Morte da Ophelia >>>>Morte do corpo para o nascimento da atriz.





Maira Tupinambá

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